"Dark Shadows" de Tim Burton

"Dark Shadows" conta com Johnny Depp, Eva Green, Michelle Pfeiffer, Chloe Moretz, Helena Bonham Carter, Jackie Earle Haley, Gulliver McGrath, Jonny Lee Miller, Bella Heathcote e ainda Christopher Lee e Alice Cooper num magnífico elenco.
A narrativa sombria e bizarra (ao bom estilo de Burton) acompanha a trágica história de vida de Barnabas Collins (Johnny Depp), um jovem galã do séc. XVIII que, após quebrar o coração a Angelique Bouchard (Eva Green), se vê transformado, por ela, num vampiro. Como se tal castigo não bastasse é ainda condenado a uma eternidade de escuridão aprisionado num caixão e enterrado vários metros debaixo da terra.
Mas Angelique não esperava que, dois séculos mais tarde, o caixão em que Barnabas achava-se sepultado fosse encontrado e o vampiro voltasse, em 1972, à “vida” para reconquistar o prestígio e a riqueza dos Collins, agora liderados por Elizabeth Collins Stoddard, interpretada por Michelle Pfeiffer. A mudança cultural, social e tecnológica por que passou o mundo nesses 200 anos em que Barnabas esteve enterrado é o mote para ótimos momentos de “Sombras da Noite”; o confronto do vampiro, de visual oitocentista e linguajar byroniano, com os novos costumes – o comportamento hippie, o rock’n'roll e a liberação feminina – rende passagens realmente cômicas.
Além de Elizabeth, fazem parte dos Collins “contemporâneos”: Roger, interpretado por Jonny Lee Miller; Carolyn Stoddard, a filha insolente e contestadora de Elizabeth vivida por Chlöe Grace Moretz; seu primo David (Gully McGrath) e a agregada Drª. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter), psiquiatra do menino que também reside em Collinwood Manor, a mansão decaída da família, antigo lar para o qual Barnabas retorna. Como a maioria dos filmes de Burton, “Sombras da Noite” é visualmente um primor gótico: as locações e a fotografia são soturnas, mas lindas; outro destaque é figurino, desenvolvido por Colleen Atwood, outra parceira do diretor desde “Edward Mãos de Tesoura”.
A bruxa Angelique, tipificando perfeitamente nosso inimigo, diz frases que são na verdade recados em forma de mensagem nada subliminar, como:

"Se eu não puder ter você, eu destruirei você... e sua família." (Claramente um aviso).
A dificuldade que “Sombras da Noite” encontra é a compressão de uma história que rendeu exatos 1.225 episódios na série de televisão em 112 minutos de filme, responsabilidade atribuída ao roteirista Seth Grahame-Smith, autor do livro “Orgulho e Preconceito e Zumbis”. Apesar de não poder ser incluída no panteão das obras-primas da dupla Burton-Depp, como o já citado “Edward Mãos de Tesoura” e “Ed Wood”, o longa-metragem mantem-se fiel ao espírito de ambos e é, de forma incontestável, superior à maioria do que vem sendo produzido em Hollywood. As aparições especiais de Alice Cooper e Christopher Lee acrescentam ainda mais fascínio à película e fazem lembrar, ao menos os que conhecem as primeiras obras do diretor americano, o icônico Vincent Price.
Enfim o filme combina a perfeição de um humor negro tipicamente britânico (nenhuma das cenas ocorrem em terras de Sua Majestade, mas a personagem de Barnabas é britânica e todo o seu modo de ser transpira ironia e elegância britânica) com um ambiente sombrio e arrepiante, digno de um thriller com sequências assustadoras. É uma comédia deliciosa, mas também não deixa de ser um filme de fantasia bastante competente e intrigante. Claro que se trata de uma mistura perigosa, transpondo um ar de elegância e frescura criativa.